Por: Márcia Luz
Nós brasileiros, não possuímos o hábito da leitura.
Não vou entrar aqui no mérito da questão de porque não se lê, incluindo altos
índices de analfabetismo, mas a questão é que entre os alfabetizados o prazer
de ler parece não ser um traço presente em nossa cultura.
Nas formações gerenciais que ministro, meus alunos
são orientados a ler um livro por mês e produzir um pequeno texto e é sempre a
mesma choradeira de que não possuem tempo. Na verdade, o que está por trás
disso é a falta do hábito da leitura, que é associada à obrigação e desprazer.
Quando os questiono acerca de quantos livros lêem por
ano, contam-me que o último livro que leram foi há mais de 10 anos, na
Faculdade, porque não foi possível se livrar da tarefa.
Leitura é hábito que precisa ser instalado na infância,
mas se as famílias falharam nesse papel, cabe à escola suprir a lacuna que
ficou na formação do aluno. Quem lê mais, escreve melhor, concatena idéias,
adquire fluência verbal e argúcia mental, ampliando seus horizontes e a visão
de mundo.
Agradeço a Deus porque tive pais espetaculares, que
embora possuíssem baixa escolaridade, compreendiam que precisavam construir um
mundo para mim onde o saber seria muito bem vindo. Meu pai me colocava no colo
para ler historinhas infantis, gibis da Mônica e Cebolinha, o que me fez
crescer achando a leitura uma saborosa aventura. Lembro de minha mãe, quando eu
possuía cinco anos, brincando de escolinha comigo. Ela sentava bonecas em
cadeiras ao meu lado, com cadernos e canetas, para ensinar-me a ler e escrever.
Assim, aprendi a associar leitura a prazer. Nas minhas férias leio romances,
livros de ficção, pouco importa. Sei que não terão utilidade profissional, mas
naquele momento só quero distração. E quando estou precisando relaxar, recorro
aos meus velhos gibis do Maurício de Souza, agora na versão “mangá”, contando
as aventuras da Mônica Jovem (e eu que pensei que ela jamais beijaria na
boca!).
E como aprendemos pelo exemplo, meus filhos seguiram
o mesmo caminho. O mais velho de 19 anos, cursando Administração, lê porque
precisa, porque gosta ou por puro prazer. A do meio, com 10 anos, em datas como
aniversário dispensa brinquedos como opções de presentes, e sua escolha são os
livros. A caçula, com 6 anos está começando a ler agora e já é apaixonada pelo
mundo das letras! Acredito que estou oferecendo a eles o legado mais precioso
que posso deixar: o prazer pela leitura.
Recentemente, tive a oportunidade de colaborar com um
lindo projeto da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) denominado
“Quem não lê, não escreve”, onde os alunos são estimulados a ler um livro por
semestre, escolhido em consenso por eles, cujo tema sempre trata de assuntos
que serão úteis para suas vidas, e não mais um livro daquela lista interminável
que terão que dar conta durante a faculdade por pura obrigação, fiquei
fascinada! Percebi o embrião que estava sendo implantado nas mentes e corações
dos alunos, mostrando a eles o quanto um livro pode abrir caminhos, oferecer
novas possibilidades e auxiliar na construção do pensamento.
O que o projeto faz, de maneira criativa e
envolvente, é dar conta de cumprir o verdadeiro papel das instituições de
ensino, que é ensinar a pensar e oferecer o gosto pela leitura como ferramenta
para que o aluno se prepare para o mercado de trabalho. Mais importante do que
repassar conhecimentos é ensinar a refletir criticamente sobre as inúmeras
verdades e instalar o espírito curioso, mostrando onde o conhecimento já
construído está disponível. O restante, o aluno fará por conta própria,
inclusive observando o mundo que o cerca e transformando-o a partir da
formulação de novos conhecimentos.
E você, o que tem feito para disseminar o hábito de
leitura em sua casa e ambiente de trabalho? Acredito que o melhor caminho é
influenciar pelo exemplo. Então, corra! Escolha um bom livro e comece hoje!
Fonte: RHevista RH
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